O interesse americano no Haiti

O poeta Tavinho Paes oferece uma abordagem que nos faz refletir sobre os interesses norte-americanos e o papel do Brasil na geopolítica mundial.


Ai de ti, haiti

-achei esquisito: em apenas uma semana o Pentágono mobilizou para a ilha do Haiti um porta-aviões, com 33 aviões de socorro e 6 F-14 TOMBCATs; 6 navios de guerra (incluindo um destryer nuclear e dois cruzadores), além de 11 mil soldados.

A Minustah, missão da ONU para a estabilização do Haiti chefiada pelo Brasil, tinha apenas 5 mil soldados.

Porque será?Sabemos que a hegemonia dos EUA no seu “quintal” tem uma pedra no sapato: o Brasil democrático dos dias de hoje; e nele, a situação geopolítica global é a seguinte.

– o petróleo é uma riqueza importante; mas é preciso extraí-lo e transportá-lo, o que significa investimento, e, em consequência, estabilidade política.

– será que o Brasil já é uma potência global:

Avaliem o seguinte:

 O Brasil é o segundo dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ficando atrás em importância apenas da China.

– dos dez maiores bancos do mundo, três são brasileiros (e cinco chineses). Nenhum destes dez bancos é norte-americano ou inglês.

– o Brasil tem a sexta reserva mundial de urânio (com apenas 25% de seu território investigado) e estará entre as cinco maiores reservas de petróleo quando for concluída a prospecção da bacia de Santos.

– as multinacionais brasileiras figuram entre as maiores do mundo. A Vale do Rio Doce é a segunda mineradora e a primeira em mineração de ferro; a Petrobras é a quarta empresa petrolífera do mundo e a quinta empresa global por seu valor de mercado; a Embraer é a terceira empresa aeronáutica, atrás apenas da Boeing e da Airbus; o JBS Friboi é o primeiro frigorífico de carne de gado bovino do mundo; a Braskem é a oitava petroquímica do planeta. E por aí vai...

– ao contrário da China, o Brasil é auto-suficiente em energia e será um grande exportador.

– nossa maior vulnerabilidade, a militar, pode ser superada graças à associação estratégica com a França. Nesta década, o Brasil fabricará aviões caça de última geração, helicópteros de combate e submarinos devido à transferência de tecnologia francesa.

– dados do FMI confirmam: até 2020, se não antes, será a quinta economia do planeta.

– o Brasil já controla boa parte do Produto Interno Bruto da Bolívia, Paraguai e Uruguai, tem uma presença significativa (no mínimo) na Argentina, da qual é sócio estratégico, assim como no Equador e no Peru, porque estes facilitam seu acesso ao Pacífico.

E tudo isso ocorre debaixo do nariz dos EUA. Aí está o osso mais duro para a IV Frota.

O Pentágono desenhou para o Brasil a mesma estratégia que aplica na China: gerar conflitos em suas fronteiras para impedir sua expansão e influência, a exemplo da Coréia do Norte, Afeganistão, Paquistão, além da desestabilização da província de Xinjiang, de maioria muçulmana.

Na América do Sul, uma constelação de bases militares do Comando Sul circunscreve o país pela região andina e o sul. A pinça se fecha com o conflito Colômbia-Venezuela e Colômbia-Equador.

Agora contará com o porta-aviões haitiano, que desloca da ilha a presença brasileira, até agora dominante, à frente da Minustah. É uma estratégia de ferro, friamente calculada e rapidamente executada.

O problema a ser enfrentado pelas nações e povos da região é que as catástrofes naturais serão uma moeda de troca – e um grande pretexto - nas próximas décadas. Isso é apenas o começo. A IV Frota será o braço militar mais experimentado e melhor preparado para intervenções “humanitárias” em situações de emergência.

Aliás, o que vem ocorrendo no Haiti é apenas a prática mais atualizada daquilo que Naomi Klein chama de “Capitalismo de Desastre” – vide tsunamis, katrinas, iraques & outros onze de setembro – e o terremoto do Haiti literalmente caiu do céu para os rapazes de Washington.

PRA TERMINAR: vou citar Condoleezza Rice, a fada madrinha das hecatombes neoliberais, em nota ao Congresso Americano após o Onze de Setembro: ”Esta é uma oportunidade maravilhosa!!!!!!!!!!!!!!”

Comentários