Outras versões

Um estranho consenso tomou conta da mídia brasileira quando o assunto é a greve de fome de presos em Cuba. A maioria dos veículos confirma a história de que Orlando Zapata, que morreu em decorrência de uma greve de fome,  era um preso político mas nem todos concordam com essa versão.

Dois pesos e duas medidas

O ex-ministro José Dirceu diz em seu blog que Zapata "era um preso comum do qual esconderam o histórico ". De uma hora para outra, colunistas e especialistas condenaram o regime cubano e as declarações do presidente Lula criticando a greve de fome. Nenhum jornal criticou os crimes cometidos no golpe de Estado em Honduras, as torturas comuns na prisão de Guantánamo ou a participação de veículos de imprensa no fracassado golpe de Estado na Venezuela.

Neste momento em que versões prevalecem em detrimento da veracidade dos fatos,  a Internet e seus blogs cumprem um inestimável papel, fontes ignoradas pelos jornalões se manifestam através de publicações eletrônicas, repercutidas em redes sociais cada vez mais relevantes.

Segue na íntegra o post de José Dirceu em seu blog.



manipulação da mídia sobre Cuba

Publicado em 10-Mar-2010

A questão dos direitos humanos é grave em muitos países...

A questão dos direitos humanos é grave em muitos países e nossa midia silencia sobre esse quadro em relação à maior parte do mundo. Praticamente só noticia, faz cobrança e confere ares de escândalo nas manchetes ao problema em Cuba.

Só para ficar em dois casos graves, menciono por exemplo Israel e Arabia Saudita. O vice-presidente americano, Joe Biden, iniciava seu 2º dia de visita a Israel quando um comunicado do governo informou sobre as novas construções de 1.600 casas em Jerusalém - na véspera, já fora anunciada a construção de 112 apartamentos na Cisjordânia - contrariando o congelamento de nove meses anunciado em novembro como parte da tentativa de negociações de paz entre palestinos e israelenses.

A mídia noticia, mas em nenhuma linha associa o fato ao desrespeito que a iniciativa representa aos direitos humanos dos palestinos, seja com a construção na Cisjordânia, seja em Jerusalém que eles reivindicam também como sua capital. Biden, aliás, faz um roteiro que será repetido na próxima semana pelo presidente Lula e que inclui Israel, territórios palestinos e Jordânia.

Claro que esse comportamento da mídia não significa que não devamos condenar a violação dos direitos humanos no Irã, nos Estados Unidos - onde o vice-presidente de George W.Bush (o filho), Dick Cheney, ambos do Partido Republicano, defende publicamente a tortura - ou em Cuba.

A liberdade de imprensa

Mas a defesa desses direitos e da liberdade de imprensa não pode ser manipulada e usada como instrumento da luta política. É o que é feito, no entanto, no caso da Venezuela, onde a midia privada participou ativamente de duas tentativas de golpe - a de abril de 2002 e a paralização da Petróleo da Venezuela (PDVSA) em seguida - fracassadas e derrotadas, embora contassem com o apoio e o silêncio da midia latino-americana.

É a mesma mídia que agora se levanta para defender canais venezuelanos de TV a cabo ilegais. Apresentam o caso como censura à imprensa, quando na verdade essas TVs não cumpriram as leis e regulamentos do país e por isso foram suspensos.

Assim é, também, no caso do cubano Orlando Zapata Tamayo, um preso comum do qual esconderam o histórico e que, induzido pelas autoridades norte-americanas e por organizações financiadas publicamente por Washington (DC) fez uma greve de fome e faleceu.

Agem do mesmo modo em relação ao jornalista e psicólogo cubano Guillermo Fariñas, em greve de fome há 25 dias, ao qual concedem imenso espaço agora, entre outras razões, a pretexto de criticar uma entrevista em que o presidente Lula comentou que essas pessoas foram presas em cumprimento a decisões da Justiça de Cuba. Por que será que Farinas esteve na cadeia por 11 anos? Por que a mídia não levanta e publica um histórico também sobre ele?

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