Dentro e fora do Eixo: quem se aventura?


No balanço do fim de semana prolongado, tempo de sobra para refletir  sobre o que está por trás da máquina de propaganda capaz de mobilizar milhões de pessoas na fé e tornar milionários, da noite para o dia,  propagadores de mensagens nem sempre generosas, nem sempre tolerantes.

Na semana em que discursos homofóbicos circularam pela rede, o vídeo da deputada Myrian Rios misturando homosexualidade e pedofilia adquiriu uma triste notoriedade. Posições de extremo conservadorismo em um partido que se notabiliza por fazer parte do Campo Popular e Democrático. Contradições da política que unem na mesma agremiação, o discurso progressista de Brizola Neto e de outro lado a visão retrógrada de um fanatismo anacrônico. 

Se tudo se resumisse a contagem de milhões em marchas na maior cidade brasileira, tais problemas estariam resolvidos. Afinal, a Parada Gay reuniu um público estimado em 4 milhões de pessoas, enquanto a Marcha dos evangélicos juntou 1 milhão de fiéis. Mas a questão não é simplesmente númerica, a discussão é sobre a forma como determinado pensamento circula, emitido por um tipo de fundamentalismo e dirigido a um tipo de público, receptivo a tais propostas. Estamos diante de uma nova inquisição que mistura alhos com bugalhos, disseminando ideias distorcidas para produzir preconceitos.

É contra isso que se deve lutar: contra a intolerância e a desinformação que interessam a círculos que exercem o verdadeiro poder há séculos neste país.

Neste sentido, não podemos nos iludir, o fato de termos um governo oriundo das lutas populares, não assegura uma gestão progressista com o atendimento automático de históricas reivindicações. Antigas e futuras conquistas estão diretamente relacionadas à capacidade de articulação dos movimentos sociais. 
A mobilidade e a conectividade  oferecidas pelas novas tecnologias são recursos indispensáveis, mas não bastam. É preciso que as mobilizações estejam  em sintonia com projetos de mudanças, alicerçados em programas exaustivamente debatidos. 

As revoltas no mundo árabe e a Revolução dos Indignados na Espanha, trouxeram para a agenda dos movimentos sociais do mundo inteiro, a possibilidade de 'revoltações', mas não apresentam por si só, uma alternativa ao neoliberalismo, É reação e revolta que merecem manifestações solidárias e replicações pelo mundo, mas que talvez necessitem de fundamentação teórica e partidos que ofereçam  desdobramentos práticos para seus movimentos.

É importante contestar o papel da mídia hegemônica e a perversidade da globalização financeira, mas sem um um lastro programático não se chega a lugar nenhum. Nesse contexto,o poder das redes, se amplia, pois revela insuspeitas vontades de protagonismo das massas, mas requer uma  interação respaldada, cada vez mais,  em fundamentações políticas com projetos de governança.

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