Trocando notícias

Ou como desorientar o ouvinte que busca informação qualificada

Diariamente, milhares de pessoas sintonizam no rádio, as chamadas emissoras All News, nestes veículos encontramos registros sobre o trânsito, os serviços de transportes, as cotações financeiras, as informações sobre a cidade, o país e o mundo. Geralmente tais notícias são entremeadas por comentários de apresentadores e "especialistas", revestidos de uma autoridade garantida por uma aparente isenção. Em cada comentário uma visão coadunante com a linha conservadora de seus veículos, quase sempre com um falso verniz de neutralidade e independência.

As emissoras se esforçam em garantir junto ao público a credibilidade necessária para a viabilidade de seus negócios, alteram a forma mas se igualam no conteúdo. No Rio de Janeiro e na maior parte do Brasil, o mercado de rádios All News é dominado pelas redes CBN e Band News FM. As duas disputam a preferência de um segmento que busca e valoriza  a informação jornalística mais aprofundada.

No entanto, as angulações, o tratamento editorial  e os articulistas selecionados pelas emissoras não deixam margem  para outras concepções de mundo, o espaço para o contraditório é mínimo ou inexistente e as diferenças são tratadas como  exóticas ou fora do eixo.

Na CBN, os comentários de Jabor e Lúcia Hippólito evidenciam suas concepções conservadoras e suas opções ideológicas, não havendo na programação nada que identifique pontos de vista diferenciados sobre a realidade política e econômica do país. É raro  vozes discordantes encontrarem espaços em seus programas para oferecer seus argumentos.

Na Band News não é diferente, o pensamento do grupo é expresso em editoriais, como o texto lido por Joelmir Betting,  em que cobra do governo atitudes duras contra a greve dos trabalhadores dos correios. No rádio, nesta sexta-feira,  em apenas 15 minutos, duas notícias com enfoques negativos: a primeira informava sobre a intenção do governo em transformar em Ministério, a Secretaria de Direitos Humanos que integraria outras 5 secretarias, a crítica sobre a criação de uma nova pasta não veio acompanhada da justificativa do governo para a sua criação. A segunda notícia dava conta do movimento Ocupando Wall Street e a decisão da prefeitura de Nova Iorque em adiar a limpeza da praça anunciada para este final de semana. A jornalista em São Paulo e o correspondente nos Estados Unidos  travaram um diálogo sem margem para o contraditório, onde os ativistas são retratados como transgressores da ordem estabelecida, fatos e ambiente enfocados bem ao gosto dos patrões que lhes pagam excelentes salários para convencer o distinto público que as opiniões divulgadas em seus programas correspondem  à realidade.

As limitadas opções de rádios informativas poderiam ser solucionadas com o ingresso de novos empreendimentos no setor das comunicações, porém, na contramão do interesse dos ouvintes, rádios comunitárias são fechadas pela Anatel, com o polêmico argumento de que derrubam aviões.

Até quando o direito à informação continuará sendo limitado por uma legislação desatualizada e obsoleta? Até quando os interesses dos grupos corporativos continuará ditando a agenda noticiosa brasileira?  Não se trata de restringir a liberdade de expressão como grosseiramente esta discussão é trabalhada pela velha mídia, mas de promover as condições adequadas para o surgimento de mais e melhores mídias representativas da diversidade  brasileira.

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