A ministra da Cultura Marta Suplicy não deixou sem resposta o editorial da Folha de São Paulo com críticas ao Vale Cultura.
O jornal paulista expressa a sua visão preconceituosa, já manifestada por seus colunistas, como a socialite carioca Danusa Leão. Imagine frequentar cinemas, teatros, exposições com a nova classe C presente nos espaços culturais , vai ser tão insuportável quanto frequentar aeroportos e esbarrar com brasileiros em Paris, Londres e Nova Iorque.
A ministra da Cultura, Marta Suplicy rebateu em nota o
editorial do jornal Folha de S. Paulo intitulado “Vale-populismo” com
críticas ao programa Vale Cultura. O texto chama de “populismo” e
promoção pessoal e eleitoreira projeto de lei que buscava aprovação
desde 2009. Com a regulamentação do VC, empresas poderão passar R$ 50 a
seus funcionários que recebam prioritariamente até cinco salários
mínimos (R$ 3.390) para gastarem em cultura.
Leia a íntegra da nota da ministra:
“A gente não quer só comida”
Por Marta Suplicy
O Brasil nos últimos anos, com Lula e agora Dilma, tem dado passos
gigantescos para acabar com a miséria. Não preciso citar os números dos
que hoje comem nem dos que hoje entraram na classe média. O Bolsa
Família, trucidado pela oposição, hoje é comprovadamente um instrumento
de erradicação da pobreza.
O Vale-Cultura pode, sim, ser o “alimento da alma”. Por que não? Pela
primeira vez o trabalhador terá um dinheiro que poderá gastar no
consumo cultural: sejam livros, cinema, DVDs, teatro, museus, shows,
revistas…
Lembro que, quando fizemos os CEUs (Centro Educacional Unificado), na
pesquisa (2004) realizada no primeiro deles, na zona leste, 100% dos
entrevistados nunca tinham entrado num teatro e 86%, num cinema. Quando
Denise Stoklos fez seu espetáculo de mímica, a plateia se remexia
inquieta até entender a linguagem e não se ouvir uma mosca no teatro,
fascinado.
Fomento ao teatro, aquisição de conhecimento e bagagem cultural! Não foi à toa que Fernanda Montenegro ficou pasma com a plateia dos CEUs.
Essas pessoas, se tiverem criado gosto, finalmente poderão usufruir e
escolher mais do que hoje podem. E os que não têm CEU têm televisão e
conhecem o que é oferecido para determinado público. Sabem também o que
aparece no bairro. E sabem que não podem ir.
Existe toda uma multidão de brasileiros (17 milhões) que hoje ganha
até cinco salários mínimos (R$ 3.390) que potencialmente poderão, além
de comer, alimentar o espírito. Este é um projeto de lei que toca duas
pontas: o cidadão que vai consumir e o produtor cultural que terá mais
público para sua oferta.
Quando chegarmos nesse potencial, serão R$ 7 bilhões injetados na cultura. Nossa previsão é atingir R$ 500 milhões neste ano.Em 2008, o Ibope realizou pesquisa sobre indicadores de cultura no
Brasil e mostrou que a grande maioria da população está alijada do
consumo dos produtos culturais: 87% não frequentavam cinemas, 92% nunca
foram a um museu; 90% dos municípios do país não tinham sala de cinema e
78% nunca assistiram a um espetáculo de dança.
Segundo a Folha, estaremos incentivando blockbusters e livros de
autoajuda. Visão elitista. Cada um tem direito de consumir o que lhe
agrada.
Não esqueço quando, visitando um telecentro, fiquei indignada que a
maioria dos jovens estava nos chats de um reality show. Fui advertida
pela gestora: “Esse é um instrumento que eles estão aprendendo a usar.
Depois, poderão voar para outros interesses. Ou não”.
Não custa lembrar que a fome pelo acesso à cultura é enorme, o que
ficou evidente nas filas quilométricas na mostra sobre impressionistas
quando apresentada gratuitamente pelo Banco do Brasil.
O que a Folha também menosprezou é a enorme alavanca que o VC pode
representar e desencadear na economia. A cadeia produtiva da cultura é o
investimento de maior rentabilidade a curto prazo. Para uma peça de
teatro, você vai desde os artistas, ao carpinteiro, cenógrafo,
vestuário, iluminador…
Quanto ao recurso ir para formação e atividades de menor sustentação
comercial, citadas como prioritários pela Folha, os editais do
ministério, os Pontos de Cultura, têm exatamente essa preocupação, assim
como os CEUs das Artes e Esporte que são, no momento, 124 em construção
no país.
“A gente quer comida, diversão e arte.” (Titãs)
Marta Suplicy é ministra da Cultura. Foi prefeita de São Paulo (2001-2004), ministra do Turismo (2007-2008) e senadora (2011-2012)
Fonte: PT/ Notícias.
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