"O
crack é uma realidade nova não só no Rio, mas no Brasil. E nós entendemos que o
problema também é em parte da Saúde. O ministro Alexandre Padilha se
prontificou a compilar as experiências, inclusive de outras capitais, como São
Paulo, para que justamente com os recursos e os projetos possamos aumentar as
equipes de Saúde e, no caso de internação voluntária, buscarmos vagas, com
parcerias privadas também. Estamos usando de todo o nosso potencial de poder
público para ajustarmos os trabalhos. Eu queria ter hoje uma solução, mas é uma
questão que requer esforços e tempo. Não há uma solução mágica,
infelizmente". A afirmação é do secretário municipal de Assistência Social
e vice-prefeito do Rio, o petista Adilson Pires, ao anunciar que a Secretaria
está revendo a forma de abordagem na ação de acolhimento dos usuários.
Na quinta-feira,
dia 10, um usuário de crack de 10 anos de idade morreu atropelado durante uma
ação da Secretaria de Assistência Social, na Avenida Brasil. Segundo Adilson
Pires, houve uma reunião em novembro passado, em Brasília, entre ele, o
ministro da Saúde, Alexandre Padilha, o secretário municipal de Saúde, Hans
Dohmann, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, onde foi acordada uma parceria na
busca de propostas de internação, políticas públicas contra as drogas, além da
disponibilização de recursos federais para o combate ao crack. "Se o
paciente está num estágio avançado do vício e da doença, ele é capaz de pôr a
sua vida e a vida dos outros em risco. E é aí que entra a possibilidade de,
sempre orientado por profissionais, haver a internação compulsória,
inicialmente. E, conforme a evolução do tratamento, o dependente pode passar
para a terapia ambulatorial", disse ele, acrescentando que "esta é a
primeira vez que morre um usuário atropelado durante a ação de combate ao
crack.
Toda a equipe ficou abalada com o que ocorreu e nossa primeira preocupação
foi quanto ao menino e a sua família. Mas é evidente que quando acontece uma
situação como essa, é necessário repensarmos o trabalho. Orientei nossas
equipes a rever, passo a passo, todos os protocolos para o atendimento. Nós
suspendemos a operação de sexta-feira para conseguirmos analisar a questão e
ter nos próximos dias alguma nova proposta", afirmou Pires.
Já a professora
Silvia Tedesco, titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal
Fluminense (UFF) e membro do Conselho Estadual de Políticas Públicas sobre
Drogas (Cepop-RJ), declara que "existe uma demanda e exigência da
população de solução imediata do uso abusivo de drogas, além do incômodo da
sociedade pela presença dessas pessoas na rua. O município quer trazer uma
solução imediata, que discorda frontalmente da cultura da saúde", aponta. Ela
discorda da atuação e da internação feita pela Secretaria e afirma que grupos e
conselhos de medicina repudiam a internação, que, segundo a professora, foi
desconsiderada como solução terapêutica ainda na década de 1970. De acordo com
a professora, a população entende que a internação é sinônimo de tratamento
intensivo, o que, segundo ela, não acontece.
"A internação é uma exclusão,
um isolamento. Como se trata alguém que está isolado, se são fatores
relacionados à vida ou rotina do paciente que deflagram o usuário com relação
ao uso de drogas? A remoção da clínica para o ambiente coletivo é feita para
restabelecer os laços. Essas conexões de vidas, que são consideradas metas do
tratamento, precisam acontecer", avalia ela.
Por outro lado, a
psicanalista Angela Hofmann aprova o trabalho da Secretaria: "Não há
possibilidade de chegar de outra forma a quem está necessitando de ajuda. Há
pessoas que têm problemas com drogas, mas ainda possuem um certo controle de
sua vida. Mas essas não têm capacidade de escolha. É a mesma coisa que você
perguntar a alguém que foi atropelado se necessita de socorro médico",
argumenta.
Fonte: SEMOP/PT
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