Olhar cidadão




As ocupações nas câmaras municipais não são extensões das manifestações democráticas mas sua distorção, elas não oferecem a oportunidade das soluções negociadas mas a do bloqueio dos canais de entendimento no qual o legislativo tem um importante papel a desempenhar.

O grito das ruas, nas manifestações de junho, serviram para mostrar como o Brasil estava conectado à tendência mundial das mobilizações aceleradas pelas tecnologias digitais, em questão de horas, milhares de pessoas podiam se organizar através da comunicação em redes sociais, favorecidas pelo uso massivo de dispositivos móveis conectados à internet.

Este salto de mobilização, constatado em outros países, como Egito, Estados Unidos e Espanha, ainda correspondeu a um saldo organizativo que dê a esses movimentos, um objetivo estratégico claro de alternativa de poder no Estado democrático.

Em comum, estes movimentos se assemelham na rejeição às organizações partidárias, em parte pelo fracasso das teses neoliberais que carregaram consigo tradicionais partidos da esquerda europeia, mas as semelhanças não conseguem esconder as realidades específicas e as  características regionais que não podem ser desprezadas. No caso brasileiro, vivemos em uma democracia, fruto do empenho de milhões de pessoas que foram para as ruas defender seus direitos em movimentos históricos como a luta pelas Diretas Já.


Neste momento, em que movimentos sociais pressionam no sentido de obter o atendimento às suas demandas, e governos democráticos se dispõe a negociar, é importante extrair a lição da greve dos profissionais da educação no município do Rio de Janeiro:  o poder público deve agir com inteligência, sabedoria e maturidade, enquanto os movimentos sociais  não podem perder de vista a oportunidade de se  organizarem em redes, respeitando os limites do Estado democrático.

Neste contexto, o episódio das ocupações das câmaras municipais não contribui em nada para o avanço das mobilizações sociais. Legislativos devem ser monitorizados e fiscalizados pela população, as sessões das câmaras podem ser acompanhadas presencialmente ou em transmissões pela internet e TV,  a tecnologia está evoluindo  permitindo que os cidadãos tenham acesso à informação sem a necessidade dos  tradicionais mediadores privados, portanto, é melhor que prevaleça o bom senso e  o legislativo possa voltar a trabalhar sob o olhar, cada vez mais atento da sociedade.  

Comentários

MARIO SOUSA disse…
BOM ARTIGO ANALÍTICO...