A quem interessa as ocupações no legislativo?

No momento em que escrevo, a sede do executivo niteroiense foi ocupado pelos grevistas da educação. O prefeito Rodrigo Neves mantendo a sua postura democrática, os recebeu e deu sequência ao processo de negociação, na prática, aberto desde janeiro deste ano, no início de seu governo. 

São apenas 10 meses, tempo insuficiente para contornar os problemas financeiros deixados pela gestão anterior e de  implementar mudanças significativas nas relações entre o poder público e seus servidores, mas para algumas lideranças é o tempo necessário para tentar emparedar administrações eleitas democraticamente. 

A impaciência e a intolerância parecem  seguir a linha dos protestos que ocorreram em diversas partes do Brasil, as manifestações, contudo,  ganharam um ingrediente a mais: a ocupação de prédios públicos, entre os quais,  monumentos históricos, sedes de governo e casas legislativas. Na tentativa de obter visibilidade para as suas lutas e pressionar governantes e parlamentares para o atendimento de suas reivindicações, os manifestantes desconsideram os espaços institucionais e desrespeitam alguns princípios caros para a democracia.

Neste sentido, o artigo do jornalista Mário Marona desfaz alguns equívocos como aqueles que alegam que estamos vivendo uma ditadura, quem faz tal afirmação não viveu os rigores dos anos de chumbo no país. A truculência e o despreparo da polícia são inaceitáveis, mesmo após a redemocratização, as instituições de segurança mantiveram o entulho autoritário, o que pode ser observado com o resultado do inquérito da polícia civil acusando policiais militares pela tortura e morte do pedreiro Amarildo. 




PORQUE NÃO APOIO A OCUPAÇÃO DE PRÉDIOS PÚBLICOS

Por Mario Marona, jornalista

Há os que consideram legítima a ocupação do plenário do legislativo por manifestantes. Há quem entenda que, mais do que legítima, a ocupação é necessária. Este grupo de opinião não se opõe, também, à depredação de patrimônio público, como o Itamaraty, em Brasília, ou um museu de História em Porto Alegre. Acha, ainda, que tem legitimidade a invasão da sede do governo. É possível que os que se alinham com este tipo de ação concordem com o uso de pedras e coqueteis molotov por militantes mascarados contra os policiais encarregados de reprimir os protestos.

Uma parte da sociedade, no entanto, defende a tese de que é livre o direito à manifestação, mas que o plenário do legislativo e a sede do governo não podem ser ocupados e interditados por manifestantes. São os mesmos que discordam da depredação de prédios públicos de qualquer natureza, assim como repudiam o ataque a quem quer que seja com pedras e vidros cheios de gasolina em combustão.

Vai ser difícil uma conclusão. Não é provável que os dois grupos venham a convergir, exceto, talvez, na identificação genérica que tenham com as reivindicações dos manifestantes – pelo menos quando elas são conhecidas, como agora, quando os professores do Rio pedem aumento salarial e melhores condições de trabalho. Quanto ao método, porém, a divisão parece insuperável.

A quem eventualmente possa interessar, tentarei deixar claras as minhas posições: estou no grupo dos que se opõem à ocupação e à depredação de prédios públicos; por mim, plenários invadidos devem ser, sim, evacuados e liberados para os seus usuários eleitos, um dos quais, por sinal, fez por merecer o meu voto; entendo que a polícia deve usar a força necessária para enfrentar os manifestantes, quando eles ocuparem prédios públicos, depredarem patrimônio do povo ou usarem de violência contra policiais e civis; manifesto meu firme desejo de que qualquer excesso cometido nas manifestações, por policiais ou por manifestantes, seja punido na forma da lei; não creio que manifestantes que escondem a cara possam representar alguém, além de oportunistas e deles mesmos; duvido muito da honestidade de manifestantes que dizem desprezar partidos políticos e se prestam à manipulação de grupos de pressão e… partidos políticos; não compartilho a tese, que considero fruto de má-fé ou enorme ignorância, segundo a qual vivemos numa ditadura, disfarçada ou não; e não contem comigo para derrubar qualquer governo eleito, em qualquer instância, a não ser pelo voto ou, se tiver que ser antes disso, por meio de um processo legal de impeachment em que o voto da maioria deve prevalecer.

Quanto aos métodos da polícia, não posso aprovar a truculência e a violência gratuitas. O Estado erra ao permitir repressão indiscriminada. Falta preparo à polícia, sem dúvida. Mas não tentem me convencer de que gás de pimenta – recurso usado no mundo inteiro – é pior do que cassetete, que gás lacrimogênio é pior do que bala de borracha – e de que tudo isso é pior do que tiros de verdade. Quem prefere que a polícia abra mão de suas armas – mesmo as não-letais – e impeça a invasão de uma instituição pública por meio de um papo reto e maneiro, não faz a menor ideia da encrenca em que se meteu. Ou se acha muito esperto. E não é.


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